Depoimentos

Haroldo Pinheiro,

Presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR)

O Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2016 reverencia o talento de um profissional admirável, assim como há dez anos o Prêmio Pritzker já destacava a arte e a técnica de Paulo Mendes da Rocha. Neste momento festivo, também vale ressaltar um traço interessante na biografia do Paulo: a sua predisposição constante em se submeter ao julgamento de seus pares nos concursos públicos de Arquitetura. Lembro, por exemplo, três de seus projetos construídos mais premiados que decorreram de concursos: o Ginásio do Clube Paulistano (1958), em São Paulo, elaborado em seus primeiros anos de profissão, ao lado de João de Gennaro; o Pavilhão Brasileiro na Expo´70, no Japão, com Flávio Motta, Júlio Katinsky e Ruy Ohtake (em 1969, mesmo ano em que foi cassado das aulas na FAU-USP); e o Museu Brasileiro da Escultura (1988), para o qual dispôs de apenas dez dias para criar, finalizar e apresentar o projeto. Sua obra, em qualquer escala – seja uma habitação unifamiliar simples, ou a intervenção em edificação preexistente e com valor histórico, ou ainda um novo museu na Europa –, revela apuro tecnológico, proporções esmeradas, soluções espaciais requintadas, Arte! Arte de um cidadão atento ao seu tempo, do profissional com trajetória irretocável que, para a sorte da arquitetura nacional, segue elevando a Cultura do país e permanece como estímulo intelectual permanente para os que sonham e trabalham por cidades mais dignas e fraternas.

Sérgio Magalhães,

Presidente do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil)

Há uma fina sintonia entre a obra e o autor na arquitetura de Paulo Mendes da Rocha. Ela se expressa na aparente simplicidade, que não vem do espontâneo, como poderia parecer a tantos. A sintonia é fruto de grande estudo e muito trabalho sob uma base conceitual de largo espectro e fundamentação rigorosa. PMR não começou contido, como é o comum. Ao contrário, desde sempre projetou rompendo os cânones para afirmar um modo peculiar de compreender o seu papel na cultura. Nas obras de sua juventude arquitetônica Paulo Mendes da Rocha já se apresentava como um exemplo para a geração imediatamente seguinte, tal a força propositiva de suas construções, como as casas do ainda hoje estão a atestar. Igualmente, o Pavilhão da Feira Mundial de Osaka, Japão, embora efêmero, pela repercussão do concurso do qual saiu vitorioso, em equipe, constituiu-se como um farol para muitos de seus jovens colegas. PMR desde o princípio foi um mestre. Sua trajetória profissional foi capaz de manter uma coerência muito rara que envolve sua produção de prancheta e seu posicionamento político, ambos mantidos límpidos ao longo do tempo – e que dão a PMR uma autoridade insuspeita. Entre as obras da juventude e as da maturidade não se pode apontar uma evolução, um movimento progressivo. Diria que há uma calma coerência. A busca por espaços destinados ao uso social, no desejo do urbano, no projeto de cidade, caracterizariam cada uma de suas obras, nas escalas e nas circunstâncias mais diversas. Na minha avaliação, constância ainda mais efetiva do que a reconhecida procura pelo emprego da tecnologia construtiva mais apurada. É um compromisso com o coletivo ainda que no objeto único.Pelo conjunto de sua obra Paulo Mendes da Rocha alcançou os mais importantes prêmios da arquitetura mundial – e ainda outros alcançará em os havendo. Mas, já há muito tempo ele sabe ter também recebido um que não se confere em um determinado momento, mas ao longo da vida: o reconhecimento e o afeto de seus colegas arquitetos brasileiros.

GILBERTO BELLEZA,

presidente do CAU/SP

Não é por acaso que Paulo Mendes da Rocha figura entre os nomes mais importantes da produção arquitetônica brasileira. Sua obra, fortemente vinculada à produção que utiliza o concreto aparente em toda sua expressão, representa uma vertente marcante da arquitetura brasileira que fez escola. Mas ele se destaca também pela dedicação ao ensino, como professor na FAU-USP, onde formou uma geração de arquitetos e discípulos.

Jeferson Salazar,

Presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA)

Considero mais do que merecida a premiação de Paulo Mendes da Rocha com o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza, nesta sua 15a edição, pelo conjunto da sua obra. Detentor de outras importantes premiações internacionais, dentre as quais se destacam o Prêmio Mies van der Rohe para a América Latina em 2001, o Prêmio Pritzker em 2006 e do título de doutor honoris causa pela Universidade de Lisboa em 2015, Paulo Mendes da Rocha inegavelmente é um dos mais importantes arquitetos brasileiros da atualidade. Sua obra, mais do que desafiadora ao tempo, é um grande exemplo de que projetos de arquitetura, quando executados com qualidade em seus mínimos detalhes, qualificam os espaços, sejam públicos ou privados. Ainda que se fale do caráter polêmico de algumas das suas obras, é fato também que ninguém nega a sua genialidade e, muito menos, o caráter de contemporaneidade que as caracterizam. Na esfera pública sua obra toma uma relevância maior: demonstra que a arquitetura não tem um propósito apenas estético, mas que também é revestida de um caráter ideológico, que busca incessantemente reafirmar a cultura, integrar socialmente, e fomentar, primando pela harmonia, novas formas de convivência/vivência entre sociedade/arquitetura/cidade. Neste sentido, Paulo Mendes da Rocha não é apenas mais um arquiteto importante que recebe mais um prêmio de reconhecimento. É um exemplo de profissional, que carrega em si a plena consciência que o seu trabalho deve agregar uma função social transformadora da sociedade. Daí decorre a sua importância maior para a arquitetura nacional e, porque, junto com ele, toda uma escola de arquitetura no Brasil, essencialmente de caráter humanista, é reconhecida e premiada

Andrea Vilella,

presidente da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA)

Tive o privilégio de encontrar o consagrado arquiteto e urbanista brasileiro Paulo Mendes da Rocha algumas vezes. E, em uma ocasião especial, deleitei-me ao ouvi-lo responder sobre o que pensava das diferenças das gerações: Gerações? Mas não estamos todos vivos ao mesmo tempo? Então, dou vivas ao saber que essa atemporalidade da sua produção foi reconhecida em um Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza. Paulo Mendes segue ampliando fronteiras da arquitetura brasileira e horizontes dos vivos ao mesmo tempo – e dos que ainda virão. Parabéns, arquiteto e urbanista Paulo Mendes da Rocha. Obrigada, Professor Paulo Mendes da Rocha.

Miriam Addor,

presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA)

Intervenções urbanas, surpresas na arquitetura, concreto armado, grandes vãos, brutalismo, forma, linguagem, arquitetura e planeta, terreno e geografia, arquitetura e natureza como forças convergentes, aparência dos detalhes construtivos, a despeito de seu alto custo econômico, reflexão sobre o mundo e sobre a experiência do homem transformar este mundo. Estas são algumas lembranças que tenho das aulas de projeto com o meu Prof. Paulo Mendes da Rocha na década de 80 nos estúdios da FAU-USP em São Paulo.

Roberto Simon,

conselheiro da União Internacional dos Arquitetos (UIA)

Como a maioria deve saber Paulo Mendes, “capixaba”, estudou no Mackenzie onde se formou em 1954, ano da morte de Getúlio Vargas, ano do nascimento para a arquitetura brasileira do talentoso “form giver” que se fixaria em São Paulo. No que diz respeito ao Getúlio, uma curiosa coincidência, já que o período de formação da arquitetura moderna brasileira ocorreu exatamente durante o Estado Novo, cujo caráter autoritário impôs uma arte nascente que cresceu desprovida da lógica e desejável ideologia social. Entretanto enquanto o Rio de Janeiro se deleitava com as curvas e a leveza dos cariocas, São Paulo não deixou por menos, portanto a esse capixaba “paulista” e sua enorme contribuição para a arquitetura brasileira, nossas homenagens e tributo aos prêmios recebidos.

MILTON BRAGA,

do escritório MMBB, professor da FAU/USP

Trabalhar com Paulo é uma escola continuada. Ver como ele utiliza sua experiência a cada novo projeto talvez tenha sido a melhor escola de arquitetura e de vida, seja no aspecto técnico, seja no artístico ou no humanístico. Ele estimula a imaginação e a reflexão. Como nunca parte de uma idéia pré-estabelecida para não prejudicar o juízo crítico, chega em geral a soluções muito simples, e espantosas, nas quais ninguém havia pensado antes”.

CÂNDIDO MALTA FILHO,

professor da FAU/USP

A obra de Paulo Mendes da Rocha “refinou” a linguagem da arquitetura paulista e a integrou mais com o ambiente urbano à sua volta – espaços internos e externos relacionando-se em permanente continuidade e por isso mesmo proporcionando grande integração sócio-ambiental, inspiração que julga fundamental para todos os arquitetos. Mendes da Rocha reafirma os valores do Movimento Moderno no que ele tem de humanista, ao propor uma sociedade fundada na justiça social. Nela, todos devem se integrar e se comunicar de modo prazeroso e positivo em meio à diversidade cultural, com ética e estética ao mesmo tempo e, ainda, expressando-se por meio de uma linguagem séria e austera, típica da arquitetura paulista, também presente nos trabalhos de Vilanova Artigas, de quem Paulo, assumidamente, se declara seguidor.

REGINA MEYER,

professora livre docente da FAU/USP

Projetos tidos como polêmicos na cidade de São Paulo, como o da Praça do Patriarca, estão na verdade muito adiante de seu tempo. Quem ataca o pórtico-cobertura da Galeria Prestes Maia que foi encomendado pela Associação Viva o Centro,desconhece que o papel do projeto foi balizar as conexões entre as várias cotas do lugar que haviam se perdido depois da reforma do Vale, do túnel do Anhangabaú até a parte superior do Vale, passando pela Galeria Prestes Maia e chegando à Patriarca. A meta nunca foi fazer só uma cobertura, mas resgatar a passagem como galeria de arte que havia sido. Por isso a idéia do Masp-Centro na Galeria agradou a todo mundo. Ocorre que perdeu-se o foco. Somente o pórtico foi executado, o restante desapareceu nas gavetas administrativas.

Fernando Serapião,

editor da revista Monolito

Com coerência e perseverança, a trajetória de mais de 60 anos de Paulo Mendes da Rocha é hoje um símbolo de resistência a práticas estabelecidas, ditadas pela lógica de mercado conservadora. Seu trabalho se expande num universo particular, onde a técnica e sensibilidade se encontram, e norteiam, com vigor, as novas gerações de arquitetos de nosso continente.

Bianca Antunes,

jornalista especializada em arquitetura, editora da revista aU – Arquitetura e Urbanismo e coautora do livro Casacadabra

Paulo é inspiração para diversas gerações. Suas obras instigam para um novo olhar sobre as funções dos edifícios na cidade e fazem refletir sobre o significado da arquitetura: um museu-cobertura que se confunde com o espaço público como o MuBE,  em São Paulo, um museu que cria novas passagens na urbe, como o recente Museu dos Coches, em Portugal; ou uma casa que coloca em debate a privacidade da família e a relação com a cidade, onde a calçada invade o térreo – caso de sua residência paulistana. A relação que mantém com as novas gerações, com quem trabalha em parceria, é uma garantia de que sua forma de pensar e de fazer arquitetura ainda irá provocar muitos profissionais e moradores da cidade.

EVELISE GRUNOW,

Editora Executiva da revista Projeto

A arquitetura brasileira se engrandece com o Leão de Ouro recebido por Paulo Mendes da Rocha nessa edição de 2016 da Bienal de Veneza. Somado ao Pritzker, conferido ao arquiteto em 2006, trata-se de reconhecimento à altura da grandeza da sua obra, que continua a nos fazer crentes no poder transformador da arquitetura.

Abilio Guerra,

professor da Universidade Mackenzie, editor da Romano Guerra Editora e do portal Vitruvius

Merecedor dos mais destacados prêmios outorgados a arquitetos – Mies van der Rohe, Pritzker e agora o Leão de Ouro da Bienal de Veneza –, Paulo Mendes da Rocha dedicou sua vida a uma obra tecnologicamente consistente, socialmente comprometida e culturalmente engajada. Arquiteto completo, ainda em atividade e em plena ebulição criativa, nos deixa na expectativa sobre suas futuras obras.